No ventre das águas, teu canto dormia,
um sussurro de maré que a noite envolvia.
Teu olhar, farol em bruma e espinho,
guiava os perdidos, chamava o caminho.
Tu foste o abraço que o vento negou,
a voz que aquietou o medo que sou.
Nas sombras da cidade, em lodo e escuro,
tua calma fez lar no peito mais puro.
Mas o rio que dá também leva embora,
e o tempo exige o que o peito implora.
Num ciclo de maré, partiste sozinha,
escolheste a noite, viraste neblina.
E agora, Mãe, o que faço eu,
sem tua canção, sem o abraço teu?
Se és rio, sigo a corrente,
se és vento, sopras na gente.
E se tudo és, e em tudo estás,
nunca há adeus, só um até mais.
– Santo, o Honorato, filho da Boiuna