Este texto foi escrito logo após a terceira mesa de Dark World, em que Rasputin revelou sua verdadeira forma, a Baba Yaga, pela primeira vez. Usei essa leitura como uma introdução ao próximo episódio, expondo os sentimentos do personagem sobre o que havia acontecido.

Sombras e pesadelos

Mais uma vez eu me encontro em uma situação de esperança. E rapidamente tudo se torna caos…

Depois de anos procurando, minha busca incessante me trouxe a um ponto de quase desistência. Nesses últimos anos – e eu não saberia precisar quantos – me sinto como se existisse meramente por capricho do destino. Esquecido… Esquecendo… Desaparecendo de minha própria percepção.

Eu conheço a sensação de estar morto, absorvida de todos os desencarnados que me rodeiam. E o que sinto é muito pior. Como se eu não tivesse o direito de morrer. Como se minha sina fosse levar para sempre essa existência vazia. Eu não mereço ter paz, depois de tudo o que causei e continuo causando a esse mundo. Mas ele tem. Meu filho tem. E por isso sigo.

Por ele sacrifiquei a pequena porção restante de minha alma. Por ele cometi as piores atrocidades. Tudo que fosse necessário para dar-lhe essa paz. E só causei muito mais dor. Para o mundo e para mim. Torço para que o abrigo no qual o coloquei, enquanto não sou capaz de salvá-lo, não lhe permita ver minhas ações. Sei quanta tristeza isso poderia lhe trazer.

Pois nas últimas semanas retomei minha busca. Uma nova perspectiva de retomar meus poderes me fez pensar uma vez mais na possibilidade do descanso eterno para Alexei. E agora aqui estou eu, mais uma vez. O lorde, o bruxo e claro… o monstro. 

Nos rastros de pessoas que pudessem ter a chave para o mistério do esquecimento que me assombra, uma vila foi destruída. Os corpos de seus habitantes pendurados em árvores incendiadas gritam em meus ouvidos até agora. Acordos espúrios foram firmados, trazendo caos e medo sobre uma Londres já abalada. Meus dedos se fechando sobre o cabo de uma arma de fogo causadora de tantas mortes, cada uma delas gravada em minhas retinas em um grito surdo, acabam de causar mais uma. A pólvora ainda os mancha.

E mais assustadora do que uma legião inteira de fantasmas do inferno, ou do que todas as vozes em minha cabeça, ela surgiu novamente. Aquela que estava perdida nos labirintos de minha mente fragilizada pelo tempo. Aguardando que eu encontrasse uma nova justificativa para seu surgimento. Para que novas almas tivessem a minha permissão para serem destruídas. 

Do alto de uma ponte sobre o Tâmisa, mais de um século depois de seu exílio, a Baba Yaga surgiu. E de loucura foram tomados aqueles que nela puseram seus olhos. Para aqueles de mente simplória preferível é findar a própria existência, ainda que de maneira brutal, a encarar nos olhos a fonte dos pesadelos mais sombrios. 

A bruxa perseguiu suas novas vítimas, fazendo que em suas cabeças a caçada durasse eras, sedenta, depois de tanto tempo esquecida. Afinal, ela também não quer deixar de existir. E quando apareceu, refestelou-se do horror e desespero daqueles que agora jazem no fundo do rio, tendo saltado para a morte assim que ela estava satisfeita.

Meu filho. Se puder me ver. Não espero que me perdoe. Mas não se culpe. Este sacrifício deve ser apenas meu. E por você eu faria tudo de novo. Viveria incontáveis vidas como essa. 

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Dimas Sewaybricker
Dimas Sewaybricker
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